sexta-feira, 10 de julho de 2015

SENSE8 - CRÍTICA

Sense8
Fonte: BP / NetFlix


Sinopse:

Oito estranhos, de diferentes partes do mundo, descobrem estar mental e emocionalmente ligados um ao outro, sendo capazes de se comunicar, sentir e adquirir conhecimento, linguagem e habilidades mútuas. Enfrentando perigos e dilemas compartilhados, são perseguidos por uma corporação que tenta matá-los.



Dados técnicos:

A série é escrita e produzida por Andy e Lana Wachowski (Matrix) e por J. Michael Straczynski. Lançada pela Netflix no dia 05 de junho de 2015, a primeira temporada contém 12 episódios.

Locais de locação e gravações: Chicago (EUA), San Francisco (EUA), Londres (Inglaterra), Berlim (Alemanha), Seul (Coréia do Sul), Reykjavík (Islândia), Cidade do México (México), Nairobi (Quênia) e Mumbai (Índia).

Independente do local, a língua predominante na série é o inglês.



Dados adicionais - personagens e atores:

* Capheus Van Damme (ator Aml Ameen) é um carismático motorista de van em Nairobi, que tenta ganhar dinheiro para comprar remédios para sua mãe, que sofre de AIDS.

* Sun Bak (atriz Doona Bae) é a filha de um poderoso empresário de Seul e luta kickboxing.

* Nomi Marks (atriz Jamie Clayton) é uma hacktivist e trans lésbica que vive em San Francisco.

* Kala Dandekar (atriz Tina Desai) é uma farmacêutica e devota Hindu em Mumbai, que deve se casar com um homem que ela não ama.

* Riley Blue (atriz Tuppence Middleton) é uma DJ islandesa que mora em Londres e possui um complicado passado.

* Wolfgang Bogdanow (ator Max Riemelt) é um serralheiro de Berlim e arrombador, que tem questões não resolvidas com seu falecido pai e participa do crime organizado.

* Lito Rodriguez (ator Miguel Ángel Silvestreé um gay não assumido espanhol, ator de telenovelas e filmes.

* Will Gorski (ator Brian J. Smith) é um policial de Chicago assombrado por um assassinato não solucionado de sua infância.



Crítica:

A seguir texto com spoiler elaborado para você que já assistiu a série.

Assim que assisti ao trailer, tive a impressão de que, mesmo com drama, assistiria a uma série repleta de efeitos visuais sobre super humanos, algo similar a Heroes. Foi apenas impressão: a série é muito dramática com leve porção de ação e de ficção no prato. A ficção é quase indistinguível ao paladar mais exigente.

O foco principal de toda narrativa é a relação entre os oito personagens, seus dilemas distintos e perigos coletivos. 

Há tempo de sobra para o telespectador conhecer cada um dos personagens, sua cultura, história e acompanhá-los na jornada. 

As subtramas são bem estruturadas, fator essencial para o ator demonstrar seu potencial e conquistar a simpatia do público, o que ocorre na maioria dos casos.

Quais são os personagens mais interessantes? Depende do ponto de vista. No meu, o galã mexicano gay, a empresária coreana e o policial. Por que? 

O primeiro causa uma enorme empatia com seu dilema entre continuar a carreira, assumir a homossexualidade e ajudar uma leal amiga. Há cenas cômicas, inusitadas e dramáticas protagonizadas por ele. E sim, há até eventual ação. Seu sentimento pelo companheiro transborda na tela - torcemos para ambos estarem sempre juntos e/ou voltarem. 

Os dois últimos são as peças chaves da ação. Quando eles surgem, a depender da situação, lutam! Quando os outros precisam de ajuda braçal, são esses dois que sobem no palco ou entram em cena.

Há o personagem Will Gorski (o arrombador de cofre) que demonstra também suas habilidades em pontuais cenas.

Os outros personagens são legais também, porém ficam restritos ao drama. Puramente. 

A blogueira transexual, por exemplo, demonstra reais casos de preconceitos e problemas do gênero (há vários aspectos de experiência pessoal da Lana Wachowski - que era chamada de Larry em 1998 durante as filmagens de Matrix -, muito bem retratados aqui). As cenas de beijos, carícias e sexo entre as duas são belas, embora poderiam ser mais provocativas e apimentadas.

O motorista de ônibus africano é a própria representação da desigualdade social, pobreza e rejeição social, mas que ainda assim mantêm a esperança, determinação e a alegria sempre ao seu lado. 

A Deejay sofre com seu passado sombrio, e se envolve com um dos 'sensates', mesmo correndo alto risco de ser pega. 

A indiana sofre com a opressão cultural e familiar, pois não quer (e nem deve) casar-se sem amor e etc.



Destaques na atuação: 

Ator Aml Ameen, que vive o motorista Capheus Van Damme. Ele transmite fielmente a dor de uma classe desfavorecida do País Quênia (e de outros como o Brasil!) e a esperança contida ou não nos olhos, além da determinação de vencer oponentes e obstáculos.

Ator Miguel Ángel Silvestre, que vive Lito Rodriguez. Demonstra entrega total ao papel de gay, transmitindo sofrimento nos dilemas sociais, carga de receios profissionais e preconceitos e turbulências na relação.

Ator Lwanda Jawar, que interpreta Githu, líder da "superpotência" da gangue de Nairobi. Embora não apareça com frequência (e sua existência não dure muito) é imponente, seguro e impõe real perigo e consequente temor a todos.

Ator Peter King Mwania que vive Silas Kabaka, um grande mafioso que oferece trabalho pra Capheus. Transmite revolta, agressividade, ódio, mas ao mesmo tempo, sua relação com a filha transmite compaixão, amor e respeito. É o cara do mal, que ainda assim nos importamos com ele.

Ator KK ou KK fer með hlutverk föður Rileys que vive Gunnar, pianista pai de Riley. Ele é carismático, transmite sinceridade, compaixão, desvelo e amor. Embora tenha poucas participações, nestas, lança simpatia num só olhar.



Destaque sensual: 

Atriz Eréndira Ibarra ou a personagem Daniela, amiga incondicional de Lito: sexy, ousada, cômica, bela e provocativa.



Pontos positivos da série:

Boa edição, considerando sobretudo as distâncias geográficas.

O objetivo é tornar os dois ambientes um único, quando dois sensates estão em telepatia ou unidos, e os editores quase sempre conseguem.

Boa representação dos preconceitos e problemas sofridos pelos homossexuais.

Há boas lutas envolvendo a coreana e o policial. A coreografia de grande parte das lutas é bem executada.

Eventualmente há boas cenas de ação envolvendo o arrombador de cofres. Há uma cena em que ele explode um carro com capangas do tio dele que ficou excepcional, incluindo movimento de câmera em guindaste ou cabo durante a explosão.

O realismo na relação homoafetiva dos personagens Lito Rodriguez e Hernando (este último interpretado por Alfonso Herrera) é belo, apreciável e contagiante. 

Vale ressaltar que há no mínimo, duas cenas em que Lito aplica diversos golpes contra oponentes. Quando ele ajuda Wolfgang na luta contra os capangas e quando ele luta e derrota Joaquim (Raúl Méndez), o namorado violento da Daniela Velasquez. Claro, que nessa última ele teve a ajuda de um sensate.

As atuações entre as lésbicas e os gays são muito convincentes.



Pontos negativos da série:

Poucas cenas de açãoO número de cenas de lutas, artes marciais, perseguições e tiroteio, poderia ser duplicado.

Falta de mais sexo ou de cena que justifique a classificação 18 anos. 
Sim, por ser uma série comprada e veiculada pela Netflix, um serviço independente de streaming, e ter recomendação para maiores, a direção poderia ser mais ousada.
É possível ver de longe cabelos pubianos e seios, e até pênis flácido, mas nada além disso. A sensibilidade ao toque, excitação e erotismo dos personagens poderia ser mais explorada sem censura, favorecendo a narrativa.

A vida dos personagens é bem desenvolvida, mas a razão da existência da Corporação que os persegue e a origem de tais "poderes", bem como histórico dos antigos sensates não são bem explicados.

É provável que seja estratégia dos roteiristas para a próxima temporada, mas há muitas lacunas na justificativa da história e em alguns personagens. 

Vou citar dois exemplos: Jonas Maliki, dramatizado pelo ator Naveen Andrews só existe para dar conselhos a alguns dos sensates, explicando o que pode ocorrer, e está quase inconsciente, preso, e pouco sabemos sobre ele além disso.

Outro personagem enigmático e mal desenvolvido é o Sr. Sussuros, feito pelo ator Terrence Mann. De onde ele veio? Por que persegue os sensates? Qual histórico dele e a Angélica (que morre no inicio da série)?

Falando nela, a Angélica, ou a atriz Daryl Hannah, de onde ela é? Quais poderes tem para conseguir antes da morte conectar as 8 pessoas? Já não são dois exemplos, são três.

São enormes lacunas na narrativa estrutural de alguns personagens e na história.

Assisti todos os episódios da primeira temporada e sinceramente, como comentei acima, não conheço histórico e motivações de alguns dos personagens.

Há ainda uma pequena dúvida: como se dá a telepatia ou projeção do sensate no outro lugar? Quando dois conversam, sabemos que para as pessoas ao redor não há ninguém. Até aí tudo bem. Mas e quando um sensate "apodera-se do corpo" e luta no lugar de outro que não tem habilidades (como quando Sun Bak ajuda Capheus Van Damme a derrotar maravilhosamente uma gangue)? Ela entra no corpo dele, apodera-se da mente ou está mesmo ali?

É uma série de drama, portanto tem muitos diálogos e pouco "movimento".

Após os primeiros episódios, a encarei como uma novela, claro, a série não segue a padronização de posicionamento de câmeras e  dramas triviais de, por exemplo, novelas brasileiras, afinal há elementos de ficção e ação, porém em grande parte assemelha-se a uma novela.


Resumo/Conclusão:

Sense8 é uma boa série dramática, tem boas atuações, apresenta temas insignes que instigam o senso crítico como homossexualismo, preconceito, imposição religiosa, desigualdade social etc. Ao mesmo tempo, é uma série com pouca ação e ficção propriamente dita. Quase não há efeitos visuais.

Embora tenha enraizada a temática transcendência - algo bem íntimo para as irmãs Wachowski, que produziram o filme Cloud Atlas,  abordando a fundo o assunto, o foco da série é predominantemente o dilema romântico, social, amistoso e tudo que estas relações implicam.

Os poderes ou habilidades dos sensates não são tão explorados, mas o contexto onde estes vivem. E como mencionei, não há poderes fantásticos que exigiriam efeitos visuais, mas ocorre apenas projeção de habilidades reais e palpáveis, como artes marciais, em situações rotineiras ou de risco vividas por outros sensates.

 É uma série bem produzida e planejada com boa edição e fotografia considerando as diversas locações pelo mundo.

Ela tem um altíssimo potencial no campo da ficção, da ação e da sensualidade, erotismo, mas não é explorada satisfatoriamente nessas áreas. É realista dentro do drama, palpável, verossímil.

Recomendo Sense8 para quem deseja entreter-se e emocionar-se com personalidades fortes, decisões difíceis, problemas sociais e de senso comum, mas não pra quem adora ficção e ação desenfreada. Mesmo assim,vale a pena conferir. 

Encare Sense8 como uma novela. Mais dinâmica e com elementos adicionais e prerrogativa fantasiosa, mas como uma novela.

Texto e Pesquisa:
Miguel Souto

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