quarta-feira, 16 de agosto de 2017

ELVIS PRESLEY - 40 ANOS SEM O REI

ELVIS
FONTE: TENHO MAIS DISCOS
Quatro décadas se passaram desde aquela tarde sombria de 16 de agosto de 1977. Com tristeza e lágrimas incontidas, nos deparamos atônitos perante o rei caído sobre o tapete. 

Seu coração, cansado, não permitiu uma vida longa, sequer um clamor por ajuda ou uma singela despedida.

Sabíamos que o mar não estava sereno para Elvis Presley: havia iminentes ondas enormes de problemas orgânicos, outras turbulências emotivas e até ventos musicais contrários, o atingindo em alta velocidade.

Todos suspeitávamos de sua rotina sufocante, dos medicamentos necessários para atenuar o brilho do sol e saturar as luzes artificiais da noite. 

No palco, em junho de 1977, nas suas últimas apresentações em Rapid City, Omaha e Indianápolis, percebemos o esforço de Elvis na tentativa de demonstrar disposição e entusiasmo, mesmo quase não tendo forças para tal e não conseguindo por vários momentos. Entretanto, sem esforço algum, ele transmitia para sua atenta plateia, seu carisma característico, sua emoção contida em cada gesto e palavra, tudo envolto naquela voz forte, impressionantemente afinada, bela e envolvente.

Hoje, essa exata data 16 de agosto nos remete obrigatoriamente àquela tarde quase nublada em Graceland, nos deixando desolados, órfãos... Mas não podemos estar presos numa única tarde: podemos viajar no tempo, percorrer todo o caminho musical que ele criou, celebrar sua maravilhosa trajetória.

ELVIS PRESLEY
FONTE: I3

Da vida simples em Tupelo-Mississippi, ao glamour em Las Vegas, vemos o Rei nascer após uma homenagem a amada mãe Gladys em 1953. 

A Sun Studio acredita nele e "compra sua passagem" para algumas regiões dos Estados Unidos. Já o coronel Parker, à um grande preço, muda sua  trajetória para o mundo: RCA Records, apresentações em TV, filmes. 

Não é apenas seu modo sensual e ousado de dançar, seu tompete, sua beleza física, e sua linda voz que o fazem apertar a mão de Ed Sullivan em 1956 em rede nacional, mas sobretudo, sua criatividade e inovação musical ao misturar no liquidificador, o blues, o country, o gospel, e nos oferecer esse delicioso e contagiante rock'n'roll. Se não exatamente criou essa bebida, ao menos com certeza a adocicou, elevando nosso paladar a um novo patamar e exigência. Vale lembrar que muitos achavam tal bebida socialmente venenosa.

O Exército o afasta dos holofotes, levando-o para a fria Alemanha, mas simultânea e involuntariamente o aproxima de seu futuro amor, Priscila Beaulieu. 

Nesse mesmo período perde sua querida mãe. Ao voltar para sua casa, continua brilhando, porém dividindo agora o palco com um talentoso grupo de Liverpool, na Inglaterra.  

Logo mergulha no mar do cinema até 1969. Inicialmente é aplaudido de pé pela crítica especializada, mas aos poucos, levado pela maré de scripts irregulares, o vemos distante, por vezes perdido e exausto de nadar naquelas águas de obrigações e contratos. Tenta sair dali, mas não consegue.

Recluso nos estúdios e nos bastidores, aproxima-se do palco somente para apresentar oficialmente sua amada em maio de 1967.

Em 1968, sua pequena princesa Lisa Marie chega ao mundo, enchendo Graceland de alegria. Nesse mesmo ano, contrariando o coronel, num ímpeto de criatividade grava o "Elvis NBC TV Special / 68 Comeback Special". Seu suor derramado naquelas consecutivas gravações valem a pena: o mundo se apaixona por aquele cara de jaqueta preta e costeleta grande outra vez! Que presente de natal recebemos! E só de imaginar seu sorriso por causa daquela chuva de ligações e da neve caindo em toda graceland, ficamos extasiados. 

Jogando fora a insegurança e vestindo seus jumpsuits, volta aos palcos em ótima forma. Os documentários "Elvis: That's the way it is"de 1970 e "Elvis on tour" de 1972 o imortaliza. O público o abraça, o beija, o deseja. Talvez isso nos conforte também: Elvis foi amado, foi ovacionado, sabia que tinha admiradores em todo o planeta Terra e que sua mensagem musical confortava e alegrava corações.

Em janeiro de 1973 oferece um presente enorme e único aos fãs, o primeiro show via-satélite, "Aloha from Hawaii". Mais de um bilhão de pessoas se emocionam pela televisão.

Nesse mesmo ano, em outubro, admite em público o fim de sua união com Priscila. Talvez a diferença no estilo de vida realmente foi a causa fatal, talvez Priscila sentia-se sozinha durante as turnes do marido, que por amor aos fãs, mais uma vez, entrava naquele onibus...

ELVIS PRESLEY
FONTE: ELVIS CONCERTS

Uma vasta agenda de shows é colocada no chão. Metros e metros de páginas, tickets para vender, lenços para entregar. Elvis continua andando, de dia e de noite, com sua águia dourada, anéis e um dever a cumprir. Na parede, discos de ouro. Bem a frente, sua plateia fiel.

O mundo está em mudança, revolução. Novos ritmos emergem, inclusive com sons mecânicos. Outros cantores vestem o rock com novos figurinos e acessórios. Não importa, pois o público do Rei do Rock continua atento aos seus passos.

A cada passo e de maneira apressada e descuidada, Elvis alimenta-se de qualquer maneira, tomando medicamentos em seguida para manter-se ativo no percurso.

Percebemos que seus passos desaceleram aos poucos. Seu corpo não consegue mais manter o ritmo da caminhada. Ainda assim, cada apresentação conquista mais fãs e ratifica seu título de Rei.

Elvis nos deixa de repente, sem se despedir, sem ver sua filha Lisa transformar-se em mulher, sem conhecer o Brasil, o Japão.

Novas gerações surgem e o admiram. Internautas "garimpam" sites em busca de informações, fotos, vídeos, músicas perdidas no tempo.

Esses novos fãs não tiveram a honra de abraçá-lo, de pedir um autógrafo, de apertar sua mão, de gritar seu nome, de tirar uma foto, de externar admiração e amor. 

O Rei continua vivo nos corações de seus fãs. Sua voz imortalizada está em cada smartphone, nos serviços de streaming, na núvem, nos vinís, nos cds, nos Dvds.

Conquistando-nos com seu sorriso, sua alegria genuína, confortando-nos com sua voz serena e letras afáveis, animando-nos enquanto as nuvens escondem os raios de sol, esse é o nosso Elvis, um artista atemporal. 

Sua voz ultrapassará gerações e tendencias. A lenda nunca morrerá. O Rei jamais perderá sua majestade e sua coroa.  Elvis jamais será esquecido! Jamais!


Texto: Miguel Souto